Terapia Artística e à Expansão de Limites

A terapia artística é uma prática que combina o processo criativo com a psicoterapia, permitindo que os clientes explorem emoções e ideias através da criação artística. No contexto terapêutico, o conceito de limites e expansão se refere à criação de um espaço seguro e estruturado que, ao mesmo tempo, permita liberdade de expressão e exploração. Este equilíbrio é fundamental na terapia artística, onde o terapeuta cria um ambiente com limites claros, mas que possibilita a exploração criativa.

Conceitos Teóricos Importantes

1. Espaço Potencial (Winnicott, 1971): O conceito de espaço potencial foi desenvolvido pelo psicanalista Donald Winnicott. Ele descreve o espaço entre o mundo interno do indivíduo e a realidade externa, onde o cliente pode explorar novas possibilidades e libertar-se de restrições. Na terapia artística, esse espaço é onde o cliente pode experimentar liberdade dentro de uma estrutura segura.

2. Estrutura e Liberdade (Rubin, 2005): A ideia de que a liberdade no processo criativo deve ser equilibrada com uma estrutura foi discutida por Rubin, que chamou isso de "estrutura para a liberdade". A estrutura ajuda o cliente a sentir-se seguro, enquanto a liberdade permite a expressão criativa.

3. Produção de Arte Responsiva (Havsteen-Franklin e Altamirano, 2015): Esse conceito refere-se ao uso de mídias artísticas como resposta às emoções e contextos do cliente na terapia. A criação de arte serve como uma forma de comunicação e processamento de emoções dentro do processo terapêutico.

Limites e Expansão na Prática da Terapia Artística

A prática da terapia artística envolve a criação e manutenção de limites terapêuticos, como o tempo e o espaço da sessão, ao mesmo tempo que se permite a expansão através da expressão criativa. Esses conceitos são representados simbolicamente na arte produzida pelos terapeutas e clientes. A criação de arte sem planejamento prévio, permite trabalhar em um espaço de liberdade que, embora tenha limites estruturais, não impõe significados rígidos.

Exemplo Prático:

Um terapeuta pode usar gesso veneziano para criar camadas e revelar novas imagens, como uma metáfora para as diferentes camadas da experiência humana. Esse processo de "lixar" as camadas representa a descoberta de novos significados que estão ocultos sob a superfície.

O Papel da Ambiguidade

A ambiguidade desempenha um papel importante na terapia artística, permitindo que a pessoa explore sem a necessidade de definir ou limitar suas criações a significados específicos. Esse conceito está presente na metáfora do barco flutuando no espaço liminar, onde o indivíduo ou o terapeuta vai entre diferentes estados, explorando possibilidades e potenciais.

A terapeuta Catherine Timm-Bottos utiliza a metáfora de um pântano, um lugar liminar e cheio de possibilidades, para descrever o espaço da terapia artística, onde as identidades são descentralizadas e novas formas de ser podem surgir.

Reflexões sobre a Prática e Pesquisa na Terapia Artística

Na terapia artística, é possível expandir suas fronteiras tanto na prática quanto na teoria. Uma das formas de fazer isso é utilizar abordagens flexíveis que se adaptem às necessidades dos clientes. Por exemplo, em vez de exigir que uma pessoa participe de várias sessões, pode-se aplicar uma técnica que permita obter benefícios em uma única sessão. Isso é especialmente útil para pessoas que enfrentam desafios físicos ou de tempo, como pacientes com doenças graves. Assim, a terapia artística se torna mais acessível, permitindo que mais indivíduos experimentem os benefícios do processo criativo, independentemente de suas limitações.

Integração de Justiça Social e Terapia Artística

Terapias artísticas que focam em justiça social integram a terapia artística com práticas comunitárias para promover o empoderamento e a cura em contextos sociais desafiadores. Essas práticas mostram como a terapia artística pode ir além das fronteiras convencionais e ser utilizada como uma ferramenta para a mudança social.

Aplicação Prática e Perguntas para Reflexão

1. Como o conceito de espaço potencial de Winnicott pode ser aplicado na terapia artística para promover a expressão do cliente?

2. Quais são as implicações de equilibrar estrutura e liberdade em uma sessão de terapia artística?

3. De que maneira a arte responsiva pode auxiliar na comunicação emocional em um contexto terapêutico?

A terapia artística envolve a criação de um ambiente seguro, onde os limites e a liberdade criativa coexistem. Conceitos como o espaço potencial de Winnicott e a estrutura para liberdade de Rubin são fundamentais para entender como a terapia artística pode ajudar os indivíduos a explorar suas emoções e identidades de maneira segura, mas expansiva. A ambiguidade e a fluidez na criação artística permitem que os indivíduos pensem suas experiências de forma não linear, descobrindo novas formas de significação e cura. Importa a produção de arte responsiva e expandir as fronteiras da terapia artística para incluir práticas de justiça social e comunitárias.

Fonte:  Haley Toll & Michelle Winkel (2019) Art Therapy: Expanding Borders and Boundaries Through Artistic Responses (Art-thérapie : élargir les frontières par des interventions artistiques), Canadian Art Therapy Association Journal, 32:2, 63-66