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Sentir é mais do que um "processo mental"


Esse conteúdo discute como entendemos e sentimos emoções, usando duas abordagens principais: uma chamada cognição corporificada e outra baseada na fenomenologia, uma filosofia que fala sobre a experiência direta das coisas.


O que é cognição corporificada?


A ideia central da cognição corporificada é que nossas emoções e pensamentos não acontecem só dentro da nossa cabeça, no cérebro. Elas envolvem todo o nosso corpo e até o ambiente ao nosso redor. Por exemplo, quando você está triste, seu corpo reage: seu rosto pode ficar caído, seus ombros podem abaixar, e o ambiente em que você está pode influenciar isso — se está em um lugar escuro e frio, talvez se sinta ainda mais triste. Autores como Joel Krueger e Giovanna Colombetti falam que nossas emoções estão "estendidas" para fora do nosso corpo. Isso significa que as coisas ao redor, como as pessoas e os objetos, também fazem parte de como sentimos.


Imagine que você está feliz, e essa felicidade é reforçada por um sorriso. O sorriso não é apenas um reflexo da emoção, ele faz parte da sua felicidade. Ao sorrir, você se sente mais feliz.


E a fenomenologia?


A fenomenologia, especialmente com o filósofo Merleau-Ponty, vai além e diz que nossas emoções não estão só dentro de nós ou só no ambiente. Elas são relações entre nós e o mundo. Isso significa que não dá para separar o que você sente de como você interage com o que está ao seu redor.


Por exemplo, quando você vê alguém sorrindo para você, o sorriso não é só um gesto. Ele é parte da alegria que essa pessoa está sentindo e, ao mesmo tempo, provoca em você uma reação — talvez você sorria de volta. Para Merleau-Ponty, a emoção é como se fosse um "diálogo" entre você, seu corpo e o mundo. O corpo não só "mostra" emoções, ele vive essas emoções.


Onde as duas ideias se encontram?


Ambas as teorias concordam em algo importante: as emoções não estão "presas" dentro da nossa mente. Elas envolvem nosso corpo e o ambiente. Mas há uma diferença na forma de ver isso.


Para Krueger e Colombetti, o corpo e o ambiente "ajudam" a criar nossas emoções. É como se eles fossem partes de um sistema, onde o cérebro, o corpo e o mundo trabalham juntos.


Para Merleau-Ponty, isso é mais profundo: nossas emoções não são "divididas" em partes (como cérebro, corpo e mundo), mas são um todo. Quando você sente algo, isso está acontecendo ao mesmo tempo no seu corpo e no mundo, como parte de uma relação contínua.



Exemplificando


Imagine que você está em um parque e vê uma criança brincando. Esse cenário pode te trazer uma sensação de alegria. Essa alegria não está só dentro de você, nem só fora. Ela está na relação entre você, a criança brincando, o parque e o que isso significa para você (talvez te lembre sua própria infância, por exemplo). É essa troca entre você e o mundo que cria a emoção.


Em resumo, essas teorias nos mostram que sentir algo é mais do que só um "processo mental". Nossas emoções estão conectadas ao nosso corpo, ao ambiente e às nossas interações com o que está ao redor. Sentir é, na verdade, um diálogo constante entre o que está dentro e fora de nós.


Então, em vez de pensar "minhas emoções são internas", o que essas ideias sugerem é que suas emoções são como uma interação contínua entre você e o mundo.


Na prática, isso ensina várias coisas importantes sobre como entendemos e vivemos nossas emoções, tais como:


1. As emoções não são apenas internas: Elas envolvem tanto o nosso corpo quanto o ambiente ao nosso redor. Ou seja, o que você sente é influenciado pelo seu entorno e pelo seu corpo, não apenas pela sua mente.



2. O corpo faz parte da emoção: Suas expressões físicas (como sorrir, franzir a testa) não só mostram o que você está sentindo, mas também podem moldar ou intensificar essas emoções. Por exemplo, forçar um sorriso pode te fazer sentir um pouco mais feliz.



3. O ambiente também influencia o que sentimos: Lugares, pessoas e objetos ao seu redor podem afetar diretamente suas emoções. Um ambiente acolhedor pode te deixar mais tranquilo, enquanto um lugar barulhento ou desorganizado pode aumentar o estresse.



4. As emoções são relações, não coisas: Não dá para separar o que você sente de como você interage com o mundo. Emoções são uma espécie de "troca" entre você e o ambiente. O que você sente depende de como você se conecta com o que está ao seu redor.



5. Interagir com outras pessoas impacta nossas emoções: Suas emoções são influenciadas não só pelo seu corpo, mas também pela interação com outras pessoas. Ver alguém expressar raiva ou felicidade pode fazer com que você também sinta algo semelhante.



6. As emoções são dinâmicas e adaptáveis: Como as emoções dependem da relação com o mundo, elas podem mudar conforme você muda de ambiente ou de comportamento. Por exemplo, se você está triste em um lugar escuro, mudar para um lugar mais iluminado e confortável pode mudar seu estado emocional.



7. A expressão das emoções afeta os outros: Quando você demonstra suas emoções corporalmente (com gestos, expressões faciais), isso afeta diretamente as pessoas ao seu redor, criando um ciclo de interação emocional.


Esses ensinamentos ajudam a entender melhor como nossos sentimentos funcionam no dia a dia e como podemos usar essa consciência para regular melhor nossas emoções e interações com o mundo.





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