
Objetivo: Compreender como as experiências adversas na infância das mães (ACEs) afetam a saúde mental de seus filhos, especialmente em famílias em situação de vulnerabilidade, como a falta de moradia.
O que são ACEs?
As Experiências Adversas na Infância (ACEs, do inglês Adverse Childhood Experiences) referem-se a situações traumáticas vividas por crianças, como abuso físico, emocional ou negligência, além de disfunções familiares, como vício de substâncias e prisão de um dos pais. Estas experiências têm um impacto profundo e duradouro na saúde mental e física da pessoa ao longo da vida.
Exemplos de ACEs incluem:
Abuso físico, emocional ou sexual
Negligência física ou emocional
Presença de membros da família com problemas de substâncias ou doenças mentais
Testemunhar violência doméstica
Divórcio ou separação dos pais
Encarceramento de um membro da família
Impacto Transgeracional
Quando falamos de impacto transgeracional, nos referimos à forma como os traumas vividos pelos pais (especialmente pela mãe) podem afetar os filhos, não apenas em termos comportamentais, mas também em aspectos biológicos e psicológicos.
Estudos mostram que:
Traumas da mãe podem influenciar diretamente os comportamentos internos (internalizing, como ansiedade e depressão) e externos (externalizing, como agressividade) de seus filhos.
Além dos fatores comportamentais, há também uma transmissão biológica, como a influência sobre o desenvolvimento cerebral da criança durante a gestação.
Modelos de Estudo
O estudo comparou dois modelos para entender como as ACEs das mães afetam os filhos:
1. Modelo de Especificidade: Avalia cada ACE individualmente para ver seu impacto direto nos filhos.
2. Modelo Dimensional: Agrupa as ACEs em duas categorias principais:
Maus-tratos (abuso físico, emocional e negligência)
Disfunção familiar (problemas de vício, separação dos pais, encarceramento)
Resultados:
O modelo de especificidade mostrou-se mais eficaz, indicando que eventos específicos como abuso físico e encarceramento parental previam mais os problemas comportamentais das crianças do que uma análise global de todas as ACEs.
Impacto no Comportamento das Crianças
Problemas internalizantes: Crianças cujas mães sofreram abuso físico ou cujo pai foi encarcerado apresentaram mais comportamentos internalizados, como ansiedade e depressão.
Problemas externalizantes: O uso de substâncias pelos pais foi associado a menos comportamentos externalizados nas crianças, o que foi uma descoberta inesperada e possivelmente relacionada ao ambiente de reabilitação em que o estudo foi conduzido.
Homelessness e ACEs
Famílias sem moradia estão frequentemente expostas a múltiplos ACEs, o que agrava os problemas de comportamento nas crianças. O estudo encontrou que muitas dessas mães e filhos experimentaram mais de quatro ACEs, o que coloca essas crianças em maior risco de problemas de saúde mental e social a longo prazo.
Implicações Práticas para Intervenção
Os programas de intervenção devem focar em:
Avaliar individualmente as ACEs das mães e filhos para proporcionar intervenções mais precisas.
Oferecer apoio específico para mães que sofreram abuso físico ou cujos pais foram encarcerados, pois essas experiências têm impacto mais forte nas crianças.
Desenvolver programas de suporte social que ajudem mães a lidar com seus traumas e ensinar habilidades parentais.
Conclusão: Intervenções que se concentrem nas experiências individuais podem interromper o ciclo de adversidades transgeracionais e melhorar a saúde mental e o desenvolvimento das crianças.
Referências: Estudo baseado em "Transgenerational impact of maternal adverse childhood experiences on children's mental health among families experiencing homelessness" (Boullion et al., 2024).
Comments