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"A Vegetariana", de Han Kang



O romance "A Vegetariana", de Han Kang, publicado originalmente em 2007, é uma obra psicológica que explora os limites da conformidade social, da identidade individual e da repressão. A trama gira em torno de Yeong-hye, uma mulher sul-coreana comum que decide abandonar o consumo de carne, o que desencadeia uma série de eventos que afetam a sua vida e das pessoas ao seu redor.


A história está dividida em três partes, cada uma narrada de diferentes pontos de vista: seu marido, seu cunhado e sua irmã. Cada seção aponta como os personagens lidam com a transformação de Yeong-hye, enquanto sua decisão de se tornar vegetariana atua como um catalisador de um processo de autoalienação e uma crise existencial.


i. O tema da autonomia corporal é central na obra. Através do abandono da carne, Yeong-hye desafia as expectativas sociais, mas também o controle sobre seu próprio corpo, que havia sido submetido tanto pelo marido quanto pela sociedade em geral. Esse ato de desobediência representa um grito contra a dominação e a violência estrutural que impregnam sua vida cotidiana.


ii. A nível simbólico, a obra utiliza a carne e a violência de forma recorrente para representar a repressão psicológica e as expectativas sociais. À medida que a protagonista se distancia da carne, tanto em termos de consumo quanto de sua própria "carne", sua saúde mental se deteriora, o que provoca nos outros personagens uma mistura de incompreensão, rejeição e fascinação.


iii. O deterioro psicológico de Yeong-hye é retratado de forma inquietante, destacando a desconexão entre corpo e mente. O vegetarianismo, que começa como uma mudança de hábitos alimentares, logo se transforma em uma manifestação de seu desejo de escapar de um ambiente que a sufoca.


Algumas perguntas que o livro responde, incluem:


  1. O que motiva Yeong-hye a se tornar vegetariana? A protagonista menciona um sonho perturbador como catalisador de sua decisão de parar de comer carne, o que demonstra uma transformação interior mais do que uma escolha dietética.

  2. Como o marido de Yeong-hye vê sua transformação? O marido de Yeong-hye inicialmente não compreende a sua mudança e a percebe como uma excentricidade, o que o deixa frustrado e irritado. Ele vê o comportamento da esposa como uma ameaça ao equilíbrio "normal" da vida conjugal.

  3. Qual é o impacto da decisão de Yeong-hye sobre sua família? A decisão de Yeong-hye de abandonar a carne gera reações intensas na família, especialmente do pai, que tenta forçá-la a comer carne. A família reage com incompreensão e frustração, tratando sua escolha como uma afronta pessoal.

  4. Como a narrativa aborda a relação entre corpo e violência? A narrativa explora a relação entre corpo e violência de forma explícita, como nas cenas em que Yeong-hye é fisicamente coagida pela família a comer carne. O corpo de Yeong-hye torna-se um campo de batalha, onde suas escolhas são desrespeitadas e sua autonomia é constantemente violada.

  5. O que a transformação de Yeong-hye simboliza para os outros personagens? Para o marido, sua transformação é um rompimento com as expectativas de uma vida "normal". Para a família, especialmente o pai, simboliza desobediência e rejeição das normas sociais e familiares.

  6. O que a narrativa diz sobre o papel da mulher na sociedade coreana? A narrativa explora como a mulher é vista na sociedade coreana, especialmente no contexto de seu papel dentro da família e do casamento. Yeong-hye, ao deixar de atender às expectativas sociais e culturais (como a de cozinhar e comer carne), enfrenta resistência e controle tanto de seu marido quanto de sua família.


No romance La vegetariana, de Han Kang, a trama se constrói a partir de cenas fortes e intensas, que mostram os conflitos internos dos personagens e as dinâmicas de poder e controle entre eles. A seguir, são descritas três cenas para que conheça o livro:


  1. O confronto familiar durante o almoço: Esta cena ocorre quando Yeong-hye decide se recusar a comer carne em um encontro familiar, o que provoca um confronto direto com seu pai. Em uma tentativa de forçá-la a se conformar às normas familiares e sociais, o pai de Yeong-hye tenta literalmente colocar carne em sua boca, o que resulta em uma violenta reação de resistência. O pai agride a filha fisicamente, e a resposta de Yeong-hye é drástica: ela corta o próprio pulso com uma faca. Esta cena é um dos momentos mais intensos do livro, pois revela o grau extremo de controle que a família tenta exercer sobre o corpo de Yeong-hye e a brutalidade da repressão à sua autonomia. A decisão de cortar o próprio pulso é uma declaração de sua recusa em ceder a esse controle, mas também um gesto de sofrimento e desespero.

  2. A filmagem com pinturas no corpo: Outro momento é a cena em que o cunhado de Yeong-hye, um artista que se sente atraído por sua transformação, propõe a ela um projeto artístico incomum: pintar o corpo dela com flores e filmar o processo. A princípio, Yeong-hye aceita a ideia com uma atitude quase indiferente, mas à medida que o projeto se desenrola, essa interação se transforma em uma experiência de transcendência para ambos. O cunhado vê em Yeong-hye uma forma de arte viva, uma manifestação de sua própria busca artística, enquanto para Yeong-hye, esse ato de ter seu corpo pintado representa uma relação com a natureza, algo que ela busca desde o início do romance. Esta cena, além de ser visualmente marcante, demonstra a forma como o corpo de Yeong-hye é apropriado pelos outros, embora ela esteja, paradoxalmente, buscando libertar-se das imposições sociais.

  3. A internação de Yeong-hye no hospital psiquiátrico: No final do livro, Yeong-hye é internada em um hospital psiquiátrico após uma série de comportamentos autodestrutivos e irracionais. A cena em que sua irmã a visita no hospital é especial, pois mostra o estado de deterioração mental e física em que Yeong-hye se encontra. Ela está convencida de que está se transformando em uma árvore e se recusa a comer qualquer alimento, insistindo que pode viver apenas da luz do sol e da água. Sua irmã tenta entender e ajudá-la, mas percebe que Yeong-hye está completamente desconectada da realidade. Este momento demonstra a radicalidade de Yeong-hye, que ao tentar escapar das estruturas opressivas de sua vida, se coloca cada vez mais em uma forma de isolamento extremo e autodestruição. A cena é poderosa por sua mistura de tristeza e impotência, e aponta os limites da compreensão e do apoio familiar frente à crise existencial de Yeong-hye.


Essas três cenas exploram temas de controle, liberdade e a desconexão entre corpo e mente. O confronto com o pai, o projeto artístico com o cunhado e a internação no hospital psiquiátrico mostram o progressivo isolamento de Yeong-hye, ao mesmo tempo que oferecem uma reflexão sobre os limites da autonomia individual dentro de uma sociedade que impõe tantas normas e expectativas.


O romance explora questões de gênero, corpo e autonomia de maneira crua, sem romantismos ou concessões. As expectativas em relação às mulheres em uma sociedade conservadora são desafiadas de forma sutil, mas contundente, enquanto Han Kang constrói uma narrativa que trata tanto as lutas internas quanto externas de seus personagens.


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