The Other Mary Shelley: Beyond Frankenstein

O livro The Other Mary Shelley: Beyond Frankenstein, editado por Audrey Fisch, Anne Mellor e Esther Schor, apresenta uma coletânea de ensaios que exploram a obra de Mary Shelley para além de seu mais famoso romance, Frankenstein. Entre os ensaios, os de Barbara Johnson são de grande destaque, pois relacionam a análise literária de Shelley com questões de gênero, crítica deconstrutiva e autobiografia, com as preocupações intelectuais e pessoais de Johnson ao longo de sua carreira.
I. Conteúdo e Estrutura do Livro
O volume é dividido em duas partes. A primeira, Early Essays, inclui três ensaios significativos de Johnson: "The Last Man" (1980), "My Monster/My Self" (1982) e "Gender Theory and the Yale School" (1984). Esses ensaios examinam como Shelley retrata, em suas obras, as relações entre identidade, gênero e poder. A segunda parte, Writing in the Face of Death: Johnson's Last Work, inclui o ensaio “Mary Shelley and Her Circle” (2009), em que Johnson explora o círculo literário de Shelley e suas influências, pensando também sobre as próprias experiências de Shelley como sobrevivente em um ambiente predominantemente masculino.
II. Temas Principais e Análise Crítica
Os ensaios de Johnson exploram múltiplos temas interligados, com especial ênfase na deconstrução, nas teorias feministas e na crítica literária.
(i) Em "The Last Man", Johnson analisa o romance homônimo de Shelley, destacando como o isolamento e a sobrevivência em um mundo devastado são usados para explorar questões existenciais e políticas. A obra antecipa um futuro sombrio que implica medos e ansiedades contemporâneos da autora.
(ii) "My Monster/My Self" é um dos ensaios mais célebres de Johnson, no qual ela compara o famoso monstro de Frankenstein com a luta pelo autoconhecimento feminino em uma sociedade que marginaliza as mulheres. O "monstro", aqui, se torna uma metáfora do eu alienado e distorcido pela opressão social.
(iii) Em "Gender Theory and the Yale School", Johnson critica a exclusão das mulheres nas primeiras discussões da escola de Yale sobre desconstrução, sugerindo que uma interpretação feminista da crítica literária poderia ter reescrito o cânone através da perspectiva de Shelley.
III. Contribuições ao Campo Literário e Filosófico
A introdução de Cathy Caruth e o posfácio de Judith Butler complementam o diálogo iniciado por Johnson, destacando sua influência duradoura no campo dos estudos feministas e deconstrutivos. O volume reconhece a importância de Johnson como teórica literária e reavalia a obra de Mary Shelley, propondo que ela seja estudada como uma autora autônoma, cuja relevância vai além de sua relação com Percy Bysshe Shelley.
A seguir, explicamos três trechos centrais para essa análise:
O Monstro em "Frankenstein" como Reflexo do Eu: Em um dos ensaios, Barbara Johnson examina o monstro criado por Frankenstein como uma metáfora para a marginalização e exclusão social. O monstro, embora fisicamente grotesco, representa o "outro" em uma sociedade que rejeita aquilo que não consegue compreender. Johnson sugere que o monstro não é apenas uma criação de Victor Frankenstein, mas também uma representação simbólica das ansiedades da sociedade em relação à alteridade, especialmente no que tange ao gênero e à identidade.
Leitura Feminista de "O Último Homem": Em outro ensaio, Johnson aborda The Last Man, de Mary Shelley, uma obra menos conhecida, mas que também lida com temas de apocalipse e sobrevivência. A narrativa trata da devastação de uma praga global, e Johnson utiliza esse cenário para explorar como Shelley posiciona o protagonista, Lionel Verney, como um “terceiro sexo”, nem totalmente masculino nem feminino, mas um observador e sobrevivente. Essa leitura destaca a fluidez de gênero na obra e o papel de Shelley como uma observadora crítica da humanidade.
Autonomia Literária de Mary Shelley: Johnson também discute o papel de Mary Shelley como uma figura literária independente, muitas vezes obscurecida pela presença dominante de seu marido, Percy Shelley. Em um curso que ministrou, Johnson enfatizou a importância de estudar Shelley não como um “apêndice” dos Românticos, mas como uma autora poderosa por si só, especialmente por sua capacidade de pensar sobre temas de criação, tanto literária quanto biológica. Shelley desejava ser, nas palavras de Johnson, uma criadora autônoma, assim como os escritores masculinos, desafiando as limitações impostas às mulheres de sua época.
Abaixo constam algumas perguntas que o livro responde:
1. Sobre o que Barbara Johnson reflete no ensaio "The Last Man"?
Ela pensa sobre a obra de Mary Shelley, especialmente Frankenstein, relacionando temas de feminismo, teoria de gênero e desconstrução.
2. O que Johnson critica em relação à "Escola de Yale"?
Ela critica o foco centrado em críticos homens, propondo uma análise de desconstrução com um enfoque feminino, usando autoras como Mary Shelley.
3. Qual a importância de Mary Shelley para a análise de Johnson?
Mary Shelley é vista como uma autora que oferece uma perspectiva feminista dentro da crítica literária e na construção de subjetividade em seus textos.
4. Como Johnson conecta o feminismo à obra Frankenstein de Mary Shelley?
Ela relaciona o monstro da história com as ideias de gênero e criação, apontando como Shelley explorou temas de maternidade e identidade feminina.
5. Qual foi a percepção inicial da crítica literária sobre Frankenstein antes de leituras feministas?
Frankenstein foi inicialmente visto como um livro infantil mal escrito, sem o devido reconhecimento crítico.
6. Como a crítica de gênero impacta a leitura de Johnson sobre as obras de Shelley?
Johnson usa a crítica de gênero para destacar o papel de Shelley como uma autora importante, que foi marginalizada por críticos homens, mas trata sobre identidade e criação.
7. Qual a relação entre o monstro de Frankenstein e as discussões de gênero, segundo Johnson?
O monstro é visto como um reflexo das tensões entre o humano e o não-humano, simbolizando ambiguidades na construção de gênero e identidade.
8. Qual foi a intenção de Mary Shelley ao criar Frankenstein, de acordo com a análise de Johnson?
Shelley quis explorar a ideia de criação, tanto literária quanto biológica, falando sobre o desejo de independência e poder criativo em um contexto masculino.
9. Como a crítica de Harold Bloom sobre Frankenstein contrasta com a leitura feminista de Johnson?
Bloom viu Frankenstein como uma obra menor do romantismo, enquanto Johnson a interpreta como importante para o entendimento de questões de gênero e criação.
10. Por que Barbara Johnson destaca a importância de revisitar autoras femininas como Mary Shelley?
Porque acredita que essas autoras foram marginalizadas e que suas obras contêm análises sobre temas como gênero, identidade e criação que foram subestimados na crítica tradicional.
The Other Mary Shelley: Beyond Frankenstein se trata de uma reinterpretação crítica tanto de Mary Shelley quanto de Barbara Johnson. Ao relacionar Shelley com debates sobre gênero, poder e criação literária, o livro convida os leitores a repensarem a importância de Shelley no panorama literário. Ao mesmo tempo, a obra celebra as contribuições de Johnson para a crítica literária e os estudos de gênero, destacando sua habilidade em apontar o conteúdo teórico e emocional da literatura de Shelley.
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