Argumento da Concebibilidade

O argumento da concebibilidade é utilizado na filosofia para sugerir que, se algo pode ser concebido, então esse algo é possível. Esse argumento é empregado nos debates sobre a mente e a consciência, sendo uma ferramenta para discutir se a mente pode ser reduzida ao físico ou se há algo mais na nossa experiência consciente.
Por exemplo, é possível imaginar "zumbis filosóficos": seres idênticos aos humanos em todos os aspectos físicos, mas que não possuem consciência. Se podemos conceber tais zumbis sem contradições lógicas, isso indica que a consciência não se reduz aos processos físicos do cérebro, mas possui uma natureza distinta. Essa linha de raciocínio é usada para contrapor o materialismo, a ideia de que tudo na mente pode ser explicado por processos físicos.
Problemas e Críticas ao Argumento da Concebibilidade
Conceito Vago e Subjetivo de Concebibilidade: Não existe uma definição precisa e consensual do que significa "concebível". Diferentes pessoas e contextos podem ter interpretações distintas do que pode ser imaginado sem contradições. Assim, decidir o que é concebível é algo ambíguo e dependente do referencial teórico adotado. Uma concepção que parece clara dentro de um campo do conhecimento pode ser vista como impossível em outro.
Concebível não é Necessariamente Possível: Apenas porque conseguimos imaginar algo, isso não implica que esse algo seja realmente possível, seja em um sentido físico ou metafísico. Alguns fenômenos concebíveis podem não ser possíveis de acordo com as leis naturais que regem o universo, enquanto cenários antes considerados inconcebíveis podem ser reais, especialmente dentro da física moderna, que desafia nossas noções de senso comum.
Conexão Incerta entre Concebível e Possível: A relação entre o que é concebível e o que é possível é incerta. Filósofos como Patricia Churchland defendem que não há evidência para acreditar que algo concebível implica sua possibilidade real. A possibilidade pode ser entendida de formas diferentes: metafísica, que é lógica, ou nomológica, que está relacionada às leis da natureza. Frequentemente, não se sabe ao certo quais são todas as leis que governam o universo, o que torna problemático afirmar que algo concebível é possível.
Limitações do Marco Conceitual: A concebibilidade depende do arcabouço teórico que se utiliza. Por exemplo, para conceber uma mente inmaterial ou um ser omnisciente, é necessário decidir qual referencial teórico se está adotando. Dependendo do referencial escolhido, como a física clássica ou a moderna, o resultado sobre se algo é concebível ou não pode variar. Isso mostra que o conceito de concebibilidade não é absoluto, mas relativo ao contexto teórico.
Brecha Explicativa e Uso da Concebibilidade: A brecha explicativa sugere que há uma lacuna entre o mundo físico e o mundo dos fenômenos conscientes que não pode ser preenchida com explicações científicas. Essa ideia é apoiada pelo uso da concebibilidade, que tenta afirmar que, se não conseguimos conceber a transição do físico para o mental, então tal explicação não pode ser possível. No entanto, essa visão é problemática, pois se baseia em conceitos subjetivos e que não são necessariamente evidentes.
Resumo
O argumento da concebibilidade sugere que, se podemos imaginar algo sem contradição, isso é possível. Esse argumento é utilizado para discutir a natureza da consciência, tentando mostrar que ela não pode ser reduzida ao físico. No entanto, há várias críticas ao uso desse argumento. Não há uma definição clara do que é concebível, a relação entre concebível e possível é incerta, e o conceito é dependente do contexto conceitual adotado. Além disso, o uso do argumento da concebibilidade na filosofia da mente, para afirmar a existência de uma "brecha explicativa" entre o físico e o consciente, apresenta problemas por se basear em pressupostos que podem ser considerados frágeis e subjetivos.