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Foto do escritorLeticia Lima

Conversa socrática: o comportamento antissocial e a escrita terapêutica



📍Os diálogos socráticos baseiam-se na dinâmica de perguntas e respostas. Chamado de processo maiêutico, essas conversas facilitam o "nascimento" das ideias. Nesta simulação, testemunhamos a conversa entre Sócrates e o jovem portenho Diego sobre comportamento antissocial e escrita.


Cenário: A Praça do Obelisco, com suas luzes brilhantes e o constante murmúrio da cidade de Buenos Aires ao redor. O Obelisco ergue-se como testemunha da troca entre Sócrates e um jovem portenho chamado Diego.


Diego: Sócrates, aqui em Buenos Aires, observei muitas pessoas que, desde jovens, demonstram comportamentos antissociais. Você acredita que isso seja inato ou é resultado do ambiente em que crescem?


Sócrates: Uma pergunta intrigante, Diego. Há aqueles que acreditam que certos comportamentos persistem à medida que se cresce. Baseado em sua experiência, o que você acha?


Diego: Notei que muitos jovens que cresceram em bairros problemáticos tendem a manter atitudes rebeldes ou conflituosas mesmo quando adultos. Será que a cidade e seus desafios moldam-nos dessa maneira?


Sócrates: Isso pode ser parte da resposta. Mas, diga-me, você já leu obras de escritores argentinos e percebeu que cada um tem uma voz única, reconhecível independente do tema abordado?


Diego: Claro, escritores como Borges ou Cortázar têm estilos inconfundíveis.

Sócrates: Então, não seria possível que, assim como esses escritores mantêm sua voz, as pessoas também carreguem padrões de comportamento ao longo de suas vidas?


Diego: Nunca tinha pensado nisso. Você está sugerindo que a escrita, tão rica em nossa cultura, poderia ajudar a entender e talvez reorientar esses comportamentos?


Sócrates: Exatamente. Se alguém pode escrever sobre suas experiências, talvez possa entender melhor seu comportamento e, se necessário, modificá-lo.


Diego: É uma ideia fascinante. Mas o que acontece com aqueles cujo comportamento antissocial é simplesmente uma reação a situações específicas da vida nesta cidade tão intensa?


Sócrates: Ah, você está se referindo à ideia de continuidade heterotípica! É um conceito que sugere que, embora o comportamento específico possa mudar com o tempo, existe uma predisposição subjacente que permanece. Assim, uma criança que mostra agressão pode se tornar um adulto que abusa de substâncias ou comete atos violentos, mas a raiz subjacente de seu comportamento antissocial permanece.


Diego: Entendo. E isso sugere que o comportamento antissocial é uma parte imutável da sua natureza?


Sócrates: Não necessariamente imutável. Trata-se mais de haver padrões de comportamento que se manifestam de diferentes maneiras ao longo da vida. As circunstâncias, as oportunidades e o ambiente desempenham um papel em como essas tendências são manifestadas. Contudo, é importante entender que nem todos os indivíduos antissociais têm trajetórias persistentes.


Diego: Então, alguns exibem comportamentos antissociais apenas na adolescência, mas não continuam na idade adulta?


Sócrates: Assim como um escritor pode passar por fases em sua obra refletindo momentos de sua vida, as pessoas também têm fases em seu comportamento. Escrever pode ser um refúgio para entender e processar essas fases.


Diego: Se isso é verdade, como poderíamos instigar a paixão pela escrita naqueles jovens que desde cedo mostram sinais de comportamento antissocial?


Sócrates: Talvez não se trate apenas da escrita tradicional. O tango, por exemplo, é uma poderosa forma de expressão em Buenos Aires. Cantar, dançar ou até escrever letras de tango poderia ser um primeiro passo. Com o tempo, isso poderia evoluir para outras formas de escrita.


Diego: Então, você está dizendo que se expressar através da arte, seja escrevendo ou dançando um tango, poderia ser uma forma de terapia para as pessoas da minha cidade.


Sócrates: A expressão artística sempre foi uma ferramenta de introspecção e transformação. Sem dúvida, é um caminho que vale a pena explorar em qualquer contexto, inclusive aqui, sob a sombra do Obelisco.


Diego: Obrigado, Sócrates. Você me deu muito no que pensar. Continuarei refletindo sobre como a arte e a escrita podem influenciar o comportamento.

Sócrates: E não esqueça, Diego, que a chave está em questionar e buscar respostas. Isso é o que realmente nos faz crescer como seres humanos.



 

📌Referencias


Blazquez, F. P., et al. (2022). Deseabilidad social, trastorno de conducta y callo emocional: estudio correlacional en adolescentes mexicanos. Rev. Crim., 64(2), 35-46.


McCabe, G. A., Smith, M. M., & Widiger, T. A. (2023). Psychopathy and antisocial personality disorder in the fifth edition of the American Psychiatric Association’s Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders: An attempted replication of Wygant et al. (2016). Personality Disorders: Theory, Research, and Treatment. Advance online publication.



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