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Foto do escritorLeticia Lima

A arte de escrever: uma ferramenta para a saúde mental



A saúde mental, em muitos contextos, tem sido influenciada por fatores sociopolíticos e desafios na percepção social. Apesar dos avanços legislativos em defesa dos direitos humanos, ainda enfrentamos o estigma e as barreiras para acessar serviços de saúde mental adequados.


No panorama global de construção da paz e recuperação, muitas vezes destaca-se o papel das artes. Elas provaram ser um meio eficaz para curar e reconstruir a resiliência individual e coletiva. Embora certas artes, como o teatro, sejam tradicionalmente enfatizadas por seu potencial terapêutico, não devemos subestimar o poder curativo da escrita.


Escrever oferece aos indivíduos um meio para processar e entender suas experiências. Através da narrativa pessoal, é possível confrontar traumas, medos e esperanças, dando palavras às emoções e, assim, dando-lhes forma e significado. Esta prática permite um profundo exercício de introspecção, onde o autor pode "ler" sua vida de diferentes perspectivas, enfrentar feridas antigas e buscar formas de superação e crescimento.

Além disso, a escrita proporciona um espaço seguro para explorar e expressar emoções que talvez no dia a dia não encontrem espaço. Ao canalizar sentimentos e experiências por meio das palavras, pode-se alcançar uma forma de catarse que alivia e oferece clareza mental.

Outro benefício significativo da escrita é sua capacidade de transformar narrativas pessoais. Por meio desta arte, as pessoas podem reescrever, reinterpretar e reimaginar suas histórias, dando-lhes um novo significado e perspectiva. Esta capacidade de reconfigurar a própria história é especialmente valiosa para aqueles que buscam encontrar propósito e significado em suas vivências.


A escrita, ao longo dos anos, provou ser uma ferramenta poderosa para processar o tumulto interno. Duas figuras proeminentes na literatura, Hilda Hilst e Lima Barreto, são exemplos claros de como a escrita pode servir como uma válvula de escape e um espaço de introspecção.


Lima Barreto, nos primeiros anos do século XX, vivenciou a internação no Hospital Nacional dos Alienados no Brasil. Por meio de suas palavras, ele nos dá uma visão íntima da vida dentro dessas instituições, onde a individualidade e autonomia eram frequentemente eclipsadas.


Sua obra "Diário do hospício" é uma crônica que detalha a rotina diária dentro do hospital psiquiátrico e as relações de poder que prevaleciam nesse ambiente. Através de sua escrita, Lima não apenas documentou suas experiências, mas também encontrou uma forma de resistência e afirmação de sua identidade. Mais tarde, ele usaria essas anotações como base para seu romance autobiográfico "O cemitério dos vivos", onde o hospital é descrito como um "cemitério dos vivos", destacando a paradoxa de uma existência marginalizada, mas ainda vibrante.


Hilda Hilst, por outro lado, foi uma voz poética brasileira cuja obra e vida foram marcadas pelo desafio constante às normas sociais e literárias. Sua poesia, teatro e romances tratam de temas que, em sua época, eram considerados tabus. Apesar de ser rotulada como excêntrica e liberal, especialmente nos anos 1950, Hilst nunca quis ser uma "escritora de culto". No entanto, sua poesia, muitas vezes introspectiva e ousada, revela um profundo desejo de compreensão e autoafirmação.


Ambos os autores, apesar de suas diferenças contextuais e estilísticas, encontraram na escrita um meio para processar e expressar suas angústias, emoções e experiências. Esta capacidade de transformar a dor interna e as experiências traumáticas em palavras e narrativas coerentes é um testemunho do poder curativo da escrita. Através de suas obras, Hilst e Barreto nos mostram como a escrita pode ser uma ferramenta para curar, resistir e, no final das contas, afirmar a existência em meio à adversidade.


 

Referencias


Biedma, S. (2017, 29 de octubre). Yo soy Hilda. Jounal pagina12.


Vieites, M. F. (2017). La Pedagogía Teatral como Ciencia de la Educación Teatral. Educação & Realidade, 42(4).


Hidalgo, L. (2008). A loucura e a urgência da escrita. Alea: Estudos Neolatinos, 10(2).


Paladino, L. & Amarante, P. D. de C. (2022). A dimensão espacial e o lugar social da loucura: por uma cidade aberta. Ciência & Saúde Coletiva, 27(1).


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